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Ameaças de Trump contra Espanha: retórica ou risco económico real?
O presidente dos EUA, Donald Trump, intensificou as tensões com Espanha, ameaçando impor tarifas duplas após a recusa espanhola em comprometer-se a gastar 5% do seu PIB em defesa. As declarações, proferidas durante a cimeira da NATO desta semana, nos Países Baixos, geraram debates sobre a sua viabilidade e potencial impacto, tanto económico como político, para Espanha.
Impasse na NATO e ameaças comerciais
As exigências de Trump para um aumento das despesas com a defesa dos aliados da NATO têm sido um tema recorrente na sua presidência. Na cimeira, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez recusou comprometer-se com a meta de 5% de gastos em defesa de Trump — muito acima da meta de 2% da NATO — e evitou um diálogo direto com o presidente dos EUA.
Em resposta, Trump prometeu "fazê-los pagar o dobro", sugerindo tarifas dirigidas às exportações espanholas para recuperar o que percebe como um défice nas contribuições para a defesa. Os especialistas, no entanto, alertam que estas ameaças podem ser mais retóricas do que práticas.
As tarifas sobre Espanha podem ser aplicadas?
Embora as declarações de Trump tenham feito manchetes, os especialistas defendem que impor tarifas exclusivamente a Espanha seria legal e logisticamente difícil. Federico Steinberg, investigador sénior do Real Instituto Elcano, explicou ao El País que a política comercial na União Europeia é governada centralmente por Bruxelas, e não por Estados-membros individuais. "É muito difícil, senão impossível, estabelecer sanções comerciais que afectem apenas um país", observou Steinberg.
Se os EUA visassem as exportações espanholas, sectores-chave como o azeite, o vinho, os electrodomésticos e os produtos farmacêuticos poderiam sentir o impacto. Espanha exportou aproximadamente 1,2 mil milhões de euros em azeites e 400 milhões de euros em vinho no ano passado, tornando estes setores particularmente vulneráveis. No entanto, quaisquer medidas contra os produtos espanhóis estender-se-iam provavelmente a outros países da UE, como a Itália e a França, que exportam produtos semelhantes. Esta interligação dentro do bloco comercial da UE complica a acção unilateral contra a Espanha.
Ángel Talavera, economista-chefe para a Europa da Oxford Economics, concorda que a imposição de tarifas através de mecanismos especiais é improvável. Refere que, durante o primeiro mandato de Trump, os EUA impuseram tarifas sobre as azeitonas espanholas, causando perdas significativas nas exportações inicialmente. No entanto, a Espanha conseguiu redirecionar as vendas para outros mercados, mitigando os danos a longo prazo.
Riscos económicos para Espanha
Caso os EUA encontrem uma forma de penalizar as exportações espanholas, sectores como a maquinaria, os electrodomésticos, os produtos farmacêuticos e os produtos agrícolas serão provavelmente alvos. Raymond Torres, diretor de análise económica da Funcas, alerta que, embora os produtos agroalimentares como a azeitona e o vinho possam recuperar através da diversificação do mercado, os produtos farmacêuticos — uma das principais exportações de Espanha para os EUA — podem enfrentar desafios maiores.
Apesar das ameaças tarifárias anteriores, a economia espanhola demonstrou resiliência, com o seu sector exportador a adaptar-se às alterações das condições comerciais. Por enquanto, as ameaças de Trump permanecem teóricas, uma vez que quaisquer penalizações comerciais significativas exigiriam a análise das regras da UE e considerações geopolíticas mais amplas.
Implicações políticas para Sánchez
A nível interno, as ameaças de Trump podem, inadvertidamente, fortalecer a posição do primeiro-ministro Sánchez. Enfrentando escândalos de corrupção e pressões dos partidos da oposição, Sánchez pode acolher com agrado a distração de uma disputa internacional. Ao enfrentar Trump e recusar-se a ceder às exigências de despesa da NATO, Sánchez poderá reforçar o seu apoio entre os aliados de esquerda, incluindo a Sumar, o Podemos e a Esquerra Republicana da Catalunha.
Um confronto público com Trump permite também a Sánchez apresentar-se como alguém que resiste às políticas intervencionistas do complexo militar-industrial, uma postura que tem repercussões no eleitorado de esquerda espanhol. Enquanto os partidos da oposição de direita, como o Partido Popular e o Vox, apelam à demissão de Sánchez, uma forte narrativa anti-Trump poderá ajudá-lo a consolidar o apoio dentro da sua coligação.
O que vem a seguir?
Ainda não se sabe se as ameaças de Trump se traduzirão em medidas económicas concretas. Por enquanto, o impasse parece ser mais uma questão de retórica do que de políticas práticas. No entanto, o episódio realça a complexa interação entre a diplomacia internacional e a política interna, com Sánchez a aproveitar o confronto para navegar pela turbulência política interna.
Embora a economia espanhola possa enfrentar riscos limitados com as ameaças de Trump, a perspectiva de disputas comerciais realça a importância da unidade dentro do bloco comercial da UE e as potenciais consequências da escalada das tensões geopolíticas.
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