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Portela: Oito novas companhias desde que o Governo mudou
E outras conseguiram aumentar os seus voos. Pedro Castro revela a análise realizada e não tem dúvidas: ‘Foi uma dose de pragmatismo e realismo’.
A Portela já recebe ou vai receber até ao início do próximo ano oito novas companhias aéreas. Esta é a principal conclusão da empresa de consultoria em aviação, aeroportos e turismo, SkyExpert, a que o Nascer do SOL teve acesso. E detalha que entre estas companhias está o regresso da Bulgaria Air (Sofia), Egyptair (Cairo), Qatar Airways (Doha) e Tunisair (Tunis) que tinham perdido os seus slots antigos, mas também novas companhias como a Icelandair (Reiquejavique), Korean Air (Seul), Pegasus (Ancara e Izmir) e LOT (Varsóvia).
Novidades que surgem antes de se ter dado início às obras no aeroporto Humberto Delgado anunciadas pelo novo Governo. Pedro Castro, diretor da Sky Expert, dá números. De 2023 para 2024 o aumento do número de partidas já está contabilizado em sistema passará de 109.568 voos para 110.943, «o que na prática se traduz num aumento da capacidade de 20 milhões de lugares à partida da Portela para 20,4 milhões».
O responsável recorda que, na classificação estabelecida pela organização Airports Council International (ACI), o aeroporto de Lisboa pertence à categoria de ‘mega aeroportos’, sendo o terceiro que mais cresceu em número de passageiros (+14,4% relativamente a 2019 e +5,3% do que em 2023) nessa categoria na Europa no primeiro semestre de 2024. Utilizando o critério da SkyExpert para este estudo – o das novas companhias – o top 5 apresentado pelo ACI «sofreria algumas alterações porque a Portela é o aeroporto que mais companhias novas irá receber em 2024». Atenas que, com +24,5% de passageiros, ocupa a primeira posição no ranking do ACI, apenas acolherá três novas companhias em 2024.
«Não se abrem novas rotas para novos destinos todos os dias», explica Pedro Castro. «Estas decisões são o resultado de análises prolongadas e cuja conclusão depende de vários fatores jurídicos, comerciais, humanos, de custo-oportunidade e de disponibilidade de frota, por isso oito novas companhias para Lisboa é um feito notório. Sem esquecer as companhias que cada vez mais olham para oferecer voos diretos para o Porto, Faro e ilhas, ou seja, sem afunilar os passageiros de todo um país num único aeroporto», diz, acrescentando que este feito é também a prova de que no anterior Governo do PS «existia uma vontade política clara e instruída para impedir a aceitação de novos voos e novas companhias na Portela, de forma a sustentar a necessidade de construir um novo aeroporto perante a opinião pública. Com o novo Governo, a orientação – apesar da decisão sobre um ‘novo’ aeroporto – foi exatamente oposta. Esta mudança permite que as várias entidades públicas envolvidas no setor – desde a NAV à ANAC – tenham outro tipo de abertura nas ‘zonas cinzentas’ do seu poder decisório».
Pedro Castro recorda que, entre terminais, pistas e acessos, «vão ser gastos mais de 10 mil milhões numa infraestrutura que não fará falta nenhuma quando abrir e que em nada beneficiará a cidade, muito menos o país». E defende ainda que um aeroporto maior vai «forçosamente criar uma pressão ainda maior do turismo no equilíbrio socio-económico-cultural do país porque não é suposto as infraestruturas serem ilimitadas».
Ao Nascer do SOL, Pedro Castro, que já tinha acusado algumas vezes o Governo anterior de querer descredibilizar a Portela, diz o que, na sua opinião, mudou: «Acho que é sobretudo um grande toque de realismo. Para já é perceber que a decisão de um novo aeroporto, na prática, não muda nada. É preciso primeiro construir esse novo aeroporto e inaugurá-lo. Acho que é esse lado pragmático e que o anterior Governo estava constantemente a bloquear».
Lembrando as declarações do presidente da ANA, José Luís Arnaut, no Parlamento, onde disse que a ANA tenta fazer obras na Portela desde 2017 mas que não o fez por falta de autorização necessária do Governo, proprietário da infraestrutura, Pedro Castro diz sentir-se «indignado» e que o Governo foi um «obstáculo politico». «Certamente, para alguém que queira convencer a população de que há uma necessidade urgente, de repente a população vê que afinal não. É um pouco a história da Portela. Durante muitos anos sempre teve essa questão de se dizer que estava esgotada mas afinal não. Acho que é essa a grande mudança: foi uma dose de pragmatismo e realismo».
Mas então Alcochete era mesmo preciso? Depois de tantos anos, esta foi uma das bandeiras do novo Governo caso fosse eleito: anunciar a localização do novo aeroporto de Lisboa, que ficará em Alcochete. O diretor da SkyExpert não tem dúvidas de que foi «uma decisão política» até porque «já nos habituámos a que vários Governos decidam várias coisas de depois da decisão, o tema sai da agenda política».
Na sua opinião, depois da comissão de inquérito à TAP, do caso da antiga CEO e da comissão técnica independente, «era importante fechar esse ciclo e arrumar o tema. Essa é a importância política da decisão. Está decidida a localização. O quê, quando e em que circunstância, ainda está para ver». E recorda que o Executivo de Luís Montenegro não só tem a intenção de obras no aeroporto de Lisboa como também no do Porto e já se fala na importância de as fazer também no Pico, nos Açores. «Acho que há uma visão aeroportuária até mais alargada que só Lisboa e com vontade de fazer».
O nosso jornal tentou obter respostas da ANA e da NAV. Esta última remeteu esclarecimentos para a primeira que, até ao fecho desta edição, não respondeu.