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Marrocos: Reforçar o capital humano para escapar à armadilha do rendimento médio
Num relatório recente do Carnegie Endowment for International Peace, o analista económico Alexandre Kattab destaca os desafios e as oportunidades que Marrocos enfrenta após 25 anos de modernização e integração nas cadeias de valor globais. O país, embora beneficie de um certo número de reformas, encontra-se numa encruzilhada face à “armadilha do rendimento médio”.
O desafio do modelo de crescimento
Há muito que Marrocos baseia o seu crescimento na exportação de bens de baixo valor acrescentado, mas esta estratégia está agora a ser posta à prova. Kattab sublinha que o aumento da concorrência dos países de baixo rendimento nos mercados de trabalho e das economias de elevado rendimento nos sectores tecnológicos complica a situação. Para sair deste impasse, sublinha a importância crucial de investir no capital humano e de explorar novos motores de crescimento, particularmente em serviços intensivos em conhecimento.
Uma situação preocupante
O relatório refere que Marrocos ocupa o 70º lugar entre 132 países no Índice Global de Inovação em 2023. No entanto, é alarmante que o país ocupe o 111º lugar no emprego intensivo em conhecimento. A formação e as competências dos jovens são essenciais para reforçar esta dimensão, tanto mais que apenas 18% dos alunos marroquinos atingem um nível adequado de competência em matemática, em comparação com 69% nos países da OCDE.
Inovação e combate à corrupção
Kattab destaca ainda outro grande obstáculo: a procura de rendimentos, que sufoca a inovação e a procura de empregos qualificados. Apela a uma acção resoluta contra a corrupção, o nepotismo e o conluio, que prejudicam a eficiência económica e a coesão social. Embora o Conselho da Concorrência tenha sancionado recentemente um cartel no sector petrolífero, o analista acredita que são essenciais esforços adicionais para melhorar a situação.
Dívida pública: uma questão crucial
Outro ponto de preocupação destacado no relatório é o aumento da dívida pública, que já ultrapassa os 80% do PIB. A dívida externa, por seu lado, ultrapassa os 50% do PIB, sobretudo devido às consequências económicas da pandemia de Covid-19. O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomenda o reforço das finanças públicas para levar o rácio da dívida para níveis mais sustentáveis. Contudo, sem reformas financeiras adequadas, esta consolidação poderá prejudicar o financiamento das reformas estruturais necessárias para a transformação económica.
Riscos geopolíticos e futuro incerto
Por fim, Kattab aborda as tensões geopolíticas que afectam Marrocos, particularmente as difíceis relações com a Argélia e o conflito duradouro com a Frente Polisário. Sublinha que o Reino deve manobrar com cautela num contexto internacional complexo para garantir a sua estabilidade e promover o seu crescimento a longo prazo.