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Espanha abre caminho à cidadania aos saarauís nascidos durante o período colonial

Sábado 13 - 09:29
Espanha abre caminho à cidadania aos saarauís nascidos durante o período colonial

O Congresso dos Deputados espanhol aprovou na quinta-feira um projeto de lei considerado histórico, que visa conceder a cidadania espanhola aos saarauís nascidos durante o período colonial no Saara marroquino. Patrocinado pelo partido político Sumar, o projeto recebeu luz verde da câmara, provocando um debate sensível envolvendo memória histórica, considerações legais e diplomáticas.

A iniciativa visa facilitar a naturalização das pessoas nascidas nas Províncias do Sul sob administração espanhola antes de 26 de Fevereiro de 1976, bem como dos seus descendentes directos, filhos e netos. Baseada em argumentos históricos e humanitários, a proposta procura resolver situações legais que ficaram por resolver após a retirada de Espanha do território. Enquanto vários grupos parlamentares a consideram uma forma de "justiça histórica", outros manifestaram reservas quanto às consequências administrativas e diplomáticas de tal medida.

Em termos concretos, o texto concede um prazo de dois anos, prorrogável por mais um ano por decisão do Ministério da Justiça, para a apresentação de pedidos de naturalização. Está também previsto um prazo adicional de cinco anos para permitir que os netos solicitem a cidadania depois de os seus avós a obterem.

Para Bahi Larbi Ennass, diretor do Centro Al Salam de Estudos Políticos e Estratégicos, este projeto de lei, inicialmente defendido pelo Podemos em 2023 e posteriormente assumido pelo Sumar em 2024, está parado há muito tempo antes de chegar a esta etapa decisiva. Contactado pela Hespress, sublinha que a votação em plenário é meramente uma etapa processual, abrindo caminho para a análise de emendas, antes de regressar à Câmara e, depois, ser enviado para o Senado. Segundo ele, a aprovação final parece provável, uma vez que a oposição se limita principalmente ao PSOE e ao Vox, cujos números são ainda insuficientes para bloquear o processo.

O especialista sublinha que grande parte do espectro político espanhol acredita que o legado colonial exige um tratamento especial, dado que Espanha não permitiu que as populações em causa, administrativamente consideradas espanholas até 1958, definissem claramente o seu estatuto antes da retirada. Observa ainda que a maioria da direita e da esquerda, bem como os nacionalistas bascos e catalães, apoiam o princípio, enquanto o Partido Socialista expressa principalmente reservas técnicas e jurídicas.

Por seu lado, Hamana Maalainine, jornalista e vice-presidente da comissão de relações externas do Movimento Saharaui pela Paz, considera que esta votação está em linha com as políticas de Sumar, que considera próximas das da Frente Polisário. Observa, no entanto, que esta iniciativa surge num momento em que Madrid reafirmou o seu apoio à Resolução 2797 das Nações Unidas relativa à autonomia marroquina, vendo nisto o desejo do governo espanhol de manter uma posição diplomática estável.

Segundo ele, o ponto essencial continua a ser o apoio oficial espanhol ao projecto de autonomia das Províncias do Sul, defendido pelo Rei Mohammed VI. Em conclusão, afirma que esta decisão parlamentar não altera a base estratégica das relações entre Marrocos e Espanha, mas antes oferece uma oportunidade para clarificar posições e reafirmar o compromisso mútuo com soluções pacíficas e diplomáticas.



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