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Ashura em Marrocos: Uma Tapeçaria de Tradição, Espiritualidade e Celebração
À medida que o sol se põe abaixo do horizonte no nono dia de Muharram, as ruas e casas do Marrocos ganham vida com as vibrantes festividades de Ashura. Esta antiga tradição, rica em história islâmica e pré-islâmica, pinta o ar com os aromas de madeira queimada e os sons de risadas, fundindo a celebração alegre com crenças espirituais e supersticiosas profundamente enraizadas.
Ashura no Marrocos é uma deslumbrante variedade de cores, sabores e emoções, representando uma mistura única de devoção religiosa e festividade cultural. Das danças animadas de jovens garotas em trajes tradicionais às delícias compartilhadas de guloseimas festivas, cada elemento da Ashura carrega profundo significado e simbolismo.
O significado religioso da Ashura
Em sua essência, Ashura tem imensa importância religiosa para os muçulmanos ao redor do mundo. O dia comemora vários eventos cruciais, incluindo o momento em que Alá salvou Moisés e os israelitas ao abrir o Mar Vermelho. Muitos marroquinos observam um jejum voluntário nos dias 9 e 10 de Muharram, seguindo a tradição do Profeta Muhammad (PBUH).
Para os muçulmanos xiitas, Ashura marca o martírio de Husayn ibn Ali, neto do Profeta Muhammad (PBUH), durante a Batalha de Karbala em 680 EC. Embora predominantemente sunitas, as tradições Ashura do Marrocos ainda refletem a influência do islamismo xiita. Além disso, os judeus marroquinos historicamente celebram Ashura ao lado de seus vizinhos muçulmanos, coincidindo com o Yom Kippur, o Dia da Expiação.
Tradições e Rituais Festivos
Uma das tradições mais icônicas da Ashura no Marrocos é acender fogueiras, conhecidas localmente como “Shâala”. Na véspera da Ashura, as comunidades se reúnem para construir grandes fogueiras, acreditando que a fumaça afasta os maus espíritos e traz boa sorte para o ano que vem.
Outro ritual estimado é o “Zamzam”, uma luta de água animada que simboliza a purificação. Armados com pistolas de água e balões, crianças e jovens adultos vão às ruas, engajando-se de forma divertida em batalhas que alguns acreditam ter propriedades curativas ligadas ao poço sagrado de Zamzam em Meca.
Em algumas regiões, a Ashura assume uma atmosfera carnavalesca com desfiles coloridos, música tradicional e performances de rua. Os participantes vestem fantasias e máscaras elaboradas, muitas vezes retratando personagens do folclore ou da história islâmica, celebrando com um senso de unidade e alegria.
Uma figura mítica, “Baba Achour”, semelhante ao Papai Noel, também é uma parte significativa das celebrações. As crianças cantam músicas e pedem guloseimas em sua homenagem, muito parecido com o doce ou travessura durante o Halloween. Além disso, o instrumento de percussão tradicional “Taarija” desempenha um papel central, seu som único preenchendo a noite enquanto as pessoas se reúnem para cantar e dançar.
Delícias culinárias e reuniões familiares
Ashura no Marrocos é incompleta sem uma variedade de guloseimas deliciosas e pratos tradicionais. Famílias se reúnem para preparar e saborear doces e delícias salgadas, cada uma com significado simbólico. Acredita-se que “Fakia”, uma mistura de tâmaras, figos, passas, amêndoas e nozes, traz saúde e prosperidade. Dizem que “Rfissa”, um ensopado farto de lentilhas, frango e especiarias servido sobre pão de massa folhada desfiado, fornece força e vitalidade.
O cuscuz, prato nacional, é preparado com sete vegetais, cada um simbolizando bênçãos e boa sorte. As mulheres se reúnem para a “Gueddida”, uma celebração que homenageia mulheres sem filhos, preparando um prato especial de cuscuz com carne seca e vegetais.
Doces como “Sellou”, feito com sementes de gergelim torradas, amêndoas e mel, e “Chebakia”, um biscoito frito mergulhado em mel e polvilhado com sementes de gergelim, também são apreciados.
Atos de caridade e gentileza
Ashura é um momento de retribuição, incorporando valores islâmicos de generosidade e responsabilidade social. Muitos marroquinos realizam atos de caridade, distribuindo alimentos e necessidades aos pobres e desprivilegiados. Alguns escolhem pagar seu “Zakat” anual durante Ashura, aprofundando sua conexão espiritual com o feriado.
Ashura também é um momento de perdão e reconciliação. Os marroquinos usam essa oportunidade para consertar relacionamentos rompidos, visitar familiares afastados e estender gestos de boa vontade.
Superstição e o Sobrenatural
Em meio às celebrações, superstições e crenças no sobrenatural desempenham um papel significativo. Muitos marroquinos acreditam que o véu entre os mundos material e espiritual é mais fino durante a Ashura, permitindo maior interação com forças invisíveis.
O poder da água “Zamzam” é uma crença prevalente, com os marroquinos coletando e usando-a para vários propósitos, acreditando que ela traz prosperidade e abundância. Ashura também é considerada um momento auspicioso para magia e adivinhação, com curandeiros tradicionais e adivinhos procurados por suas percepções.
A presença de espíritos e seres sobrenaturais é aumentada, com alguns acreditando que as almas dos mortos retornam para se comunicar ou resolver negócios inacabados. Para se protegerem, os marroquinos podem queimar incenso, recitar orações ou usar amuletos de proteção.
Desafios e Controvérsias
Apesar da alegria e união, a Ashura no Marrocos enfrenta desafios e controvérsias. O uso de fogos de artifício e rojões, embora festivo, apresenta riscos significativos à segurança. As autoridades tentaram controlar seu uso, mas a fiscalização é difícil.
Preocupações ambientais também surgem das fogueiras de Shâala, que contribuem para a poluição do ar. Ativistas pedem alternativas mais ecológicas. As lutas pela água de Zamzam, em meio à seca do Marrocos, levantam questões sobre o uso responsável da água.
A comercialização da Ashura também atraiu críticas, com o verdadeiro significado do feriado correndo o risco de ser ofuscado pelo consumismo.
Apesar desses desafios, muitos marroquinos continuam dedicados a preservar o espírito autêntico da Ashura e a transmitir suas tradições para as gerações futuras.