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Portugal triunfa por 2-1. O cruel assassínio do cobarde soldado Chveik

Portugal triunfa por 2-1. O cruel assassínio do cobarde soldado Chveik
Quarta-feira 19 Junho 2024 - 21:21
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Os checos fizeram tudo para que o jogo se ficasse por uma insuportável maçadoria. Tiveram a sorte de marcar primeiro mas, em seguida, Portugal respondeu com gana e acabou por ganhar já nos descontos com um golo de Francisco Conceição

Afonso de Melo, em Leipzig

LEIPZIG – O tecto de nuvens começou a baixar e elas ganharam o tom do carvão. A caminho do estádio, ainda tão à moda da República Democrática no exterior, valha-lhe o tempo – e também por dentro, já agora -, ouvi alguém lá no céu a empurrar à bruta móveis pesados. Pensei para comigo, à moda de Leónidas, na Batalha das Termópilas: «Bem, combateremos à chuva». Isto sem saber ou certo se seria para a seleção de Portugal que se estreou neste Europeu algo de positivo ou de negativo. Seja como for, prefiro optar pelo princípio de que o Destino também passa pelo nosso livre-arbítrio. Pelo menos se não optarmos por atrair a desgraça.

Os deuses da atmosfera acalmaram-se, os trovões foram-se com os riscos negros e o relvado abriu-se à minha frente tão, tão verde que até dava vontade de pastar, por assim dizer. Convenhamos que ninguém com os alqueires bem medidos vem para o leste da Alemanha para ruminar pelo que fiquei à espera da surpresa que Roberto Martinez teria para apresentar. Manteve a Velha Guarda, com Pepe atrás e Ronaldo na frente, numa insistência que faz sentido, mas em vez de avançar com três centrais apostou em três laterais, Cancelo, Dalot e Nuno Mendes. Claro que isto é o que apareceu no papel. Restava ver como funcionaria a geringonça quando a bola começasse a rolar. Assim à primeira vista caberia a Nuno Mendes recuar para compor o trio de trás, mas o onze foi tão inédito que dava para fazer qualquer tipo de conjeturas. E deixar o centro do meio-campo entregue a Bruno Fernandes e Vitinha também me causava certa espécie. Com a pulga atrás da orelha, nada como jogar mão da paciência. Não se afobem que já lá vou. Nada de fazer como o outro que dizia: «Se os acontecimentos nos ultrapassam, vamos lá fazer de conta que nós é que organizámos os acontecimentos».

Deixei a bola rolar um bocadinho para vos trazer novidades. Não gosto de números, mas não tenho nada contra quem gosta. Encanita-me um bocado essa coisa dos 4.3.3 e dos 3.5.2 e por aí fora porque me parecem números de telefone e as táticas são tão volúveis que, mal damos por ela, já temos os algarismos virados do avesso. Confirmo, no entanto que Nuno Mendes ficou ao lado esquerdo de Pepe com Cancelo na sua frente e Vitinha e Bruno Fernandes funcionavam como um êmbolo, sendo que o primeiro mantinha-se menos afoito ofensivamente. Por seu lado, os checos pareciam a mesma imagem no espelho da estratégia, apenas com Soucek mais firme como trinco. Portugal assumiu-se, a chuva começou a cair, primeiro com leveza e depois mais à bruta, mas não pareceu incomodar ninguém em particular, provavelmente só a mim imaginando-me a regressar ao hotel que nem um pinto. Se abundava a água o mesmo não acontecia com a imaginação.Dou por mim a olhar para o relógio. Vinte minutos decorridos e um dilema para resolver: se não se passa nada, vou escrever sobre o quê? Meu dito, meu feito, e quase que Leão aproveitava um passe da direita de Bruno Fernandes. Os checos, metidos nas suas tamanquinhas, pareciam satisfeitos da vida. Um pontapés para a frente e vivó velho! Grandes, maciços como as montanhas de Karkonoszce, lá na sua terra, conhecidas por Montanhas dos Gigantes, mantinham-se num bloco branco muito pouco maleável mas que estremeceu nos alicerces com um primeiro momento de Ronaldo isolado a pôr Stanek à prova e, logo a seguir com um toque de calcanhar do mesmo Ronaldo que ia deixando Bernardo Silva à beira de marcar. O problema do mas é que é sempre um mas… reticências e tudo.


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