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Paris2024. Os jogos da ilusão
Patrícia Sampaio conquistou a medalha de bronze no judo e atenuou a frustração portuguesa na primeira semana de competição. Atletismo, canoagem e natação são as próximas.
Os Jogos Olímpicos Paris 2024 começaram com um megaespectáculo no rio Sena a que chamaram cerimónia de abertura. Foi, de facto, um evento bonito de ver pela televisão, mas quem esteve horas a fio plantado nas margens do rio a assistir à passagem dos 85 barcos com atletas olímpicos não teve a sorte de ver as pop stars Lady Gaga e Céline Dion e o ousado desfile de moda numa das míticas pontes de Paris. Para a história fica um espetáculo onde participaram dois mil artistas, que ultrapassou em muito o espírito olímpico e trouxe a igualdade de género, a diversidade e a inclusão para o desporto, só que nem tudo correu bem nesse dia, nem nos dias seguintes.
A representação onde participaram várias drag queens, uma mulher transgénero e um homem nu foi interpretada por muitos católicos como uma alusão à última ceia de Jesus com os apóstolos e motivou protestos de dirigentes desportivos, políticos e da igreja francesa. A empresa americana de telecomunicações C Spire anunciou no X que «estava chocada» e que iria retirar a sua publicidade dos jogos olímpicos. Thomas Jolly, diretor da cerimónia de abertura, explicou que essa sequência representava uma festa pagã ligada aos deuses do Olimpo e que nada tinha a ver com ‘A Última Ceia’, apesar dessa explicação o comité organizador pediu desculpas pelo sucedido.
A inovadora cerimónia de abertura ficou na memória pela sua espetacularidade e por ter sido a primeira realizada fora de um estádio, mas a amplitude do espetáculo retirou a emoção e a magia únicas de desfilar num estádio lotado e não houve ambiente olímpico na chuvosa noite de Paris – foi óbvio que o comité organizador nunca colocou a possibilidade que chovesse a cântaros no verão parisiense. Hastear a bandeira olímpica no Trocadéro e ir a ‘cavalgar’ pelo Sena até ao jardim Tuileries para acender a pira não faz qualquer sentido. Ernest Hemingway escreveu ‘Paris é Uma Festa’, mas nunca teria idealizado nada assim… e Pierre de Coubertin muito menos. O único momento onde se sentiu verdadeiramente o olimpismo foi na passagem da chama olímpica de Charles Coste, atleta de 100 anos que foi medalha de ouro em 1948, para o duo Teddy Riner-Marie-José Pérec. Um momento marcante de Paris 2024.
Os jogos ainda não tinham começado e já o rio Sena era notícia pela má qualidade da água e pela teimosia da organização em disputar a prova de natação do triatlo nesse local. Após dois adiamentos por terem sido detetados elevados níveis da bactéria Escherichia coli na água, o impensável aconteceu e os atletas mergulharam e nadaram no Sena e vão também disputar os 10 km de águas abertas. Depois de terem sido gastos 1,4 mil milhões de euros na tentativa de despoluição do rio, os nadadores foram mesmo para a água, correndo o risco de ter problemas gastrointestinais, infeções urinárias e renais ou meningite. Entretanto, em La Défense Arena, onde se realizam as provas de natação, descobriu-se que a piscina tem 2,15 m de profundidade em vez dos 3 m exigidos pelo Comité Olímpico Internacional. A estrutura – a piscina é desmontável – a profundidade e o fundo cheio de câmeras e outros objetos técnicos criam turbulência na água e tornam a piscina mais lenta, o que explica que apenas tenha sido batido um recorde do mundo em cinco dias de competição.
A primeira semana de competição consagrou grandes campeões olímpicos e trouxe um novo recorde mundial na prova rainha da natação. Neste semana houve algumas performances de grande nível, o herói francês León Marchand conquistou duas medalhas de ouro no espaço de hora e meia (200 m mariposa e 400 m bruços, a norte-americana Katie Ledecky conquistou a oitava medalha de ouro (1500 m livres) e o chinês Pan Zhanle, de 19 anos, ‘voou’ debaixo de água e estabeleceu novo recorde do mundo nos 100 m livres (46,40s).De referir que o nadador tem como preparador físico o português Nuno Pina.
Simone Biles voltou aos grandes palcos e liderou a equipa dos EUA que venceu a competição de ginástica artística, foi a quinta medalha de ouro de Biles em jogos olímpicos.
A primeira semana ficou ainda marcada pela polémica no boxe. A pugilista italiana Angela Carini abandonou o combate com a argelina transexual Imane Khelif e afirmou nunca ter levado socos tão fortes. Imane não cumpria as regras de elegibilidade da Associação Internacional de Boxe e falhou o Campeonato do Mundo, mas foi considerada elegível pelo COI para competir em Paris…
As elevadas expetativas da comitiva nacional foram apenas fogo de vista. Ao fim de seis dias de competição, Portugal obteve cinco diplomas olímpicos (entregues aos oito primeiros classificados), com algumas desilusões difíceis de entender tendo em atenção aquilo que os atletas já fizeram em outros palcos internacionais.
No judo, o discurso otimista de alguns atletas caiu por terra logo ao primeiro combate. A exceção foi Patrícia Sampaio que esteve na luta pelas medalhas na categoria – 78 kg. Nas meias-finais foi derrotada pela italiana Alice Bellandi, que se sagrou campeã olímpica e, na luta pela medalha de bronze, derrotou a japonesa Takayama. «Estava muito focada naquilo que tinha de fazer. Ainda não caiu a ficha, quando tiver a medalha ao peito talvez perceba melhor o que aconteceu», disse.
Viva os diplomas
As outras boas exceções da primeira semana foram os triatletas Vasco Vilaça e Ricardo Batista. Os jovens portugueses fizeram uma prova sempre a recuperar e terminaram no 5.º e 6.º lugares, os diplomas olímpicos foram bem merecidos. Foi bonito ver os portugueses a lutarem por uma posição de relevo e mostraram que Portugal tem triatletas de nível mundial. No final dos 1.5 km da natação estavam a mais de um minuto dos primeiros, aproximaram-se do grupo da frente nos 40 km de ciclismo e terminaram os 10 km de corrida a poucos segundos do campeão olímpico Alex Yee, que fez a prova em 1h.43,33. Vasco Vilaça obteve a melhor classificação de sempre e igualou o registo de João Pereira, no Rio 2016. «Fui até ao limite e cheguei exausto. Quando acabei a prova não estava muito consciente. Nos últimos cinco quilómetros dei tudo para tentar chegar à frente. Quando acabei a prova não estava muito consciente», disse o atleta que esteve algum tempo a recuperar depois de cortar a meta. Vilaça tinha sido vice-campeão do mundo em 2020 e estreou-se nos jogos olímpicos. «Foi uma experiência espetacular, adorei a envolvência», referiu o português, que sublinhou: «Quando ia com o Ricardo era impressionante o apoio dos portugueses». Ricardo Batista foi outro estreante nos jogos e estava satisfeito: «Correu tudo bem e o resultado foi excecional. O maior adversário foi a corrente no rio, mas era igual para todos. Temos de estar sempre no sítio certo na altura certa, adorei a prova». Maria Tomé, atual vice-campeã mundial de Sub-23, terminou a competição feminina no 11.º lugar. Os triatletas voltam a competir na segunda-feira, na prova de estafeta mista, com o objetivo de chegar ao pódio. «Estamos cá para dar o nosso melhor, todos queremos uma medalha», afirmou Vasco Vilaça.
Nélson Oliveira foi 7.º no contrarrelógio individual, ganho por Remco Evenepoel, que juntou a medalha de ouro ao título mundial. O ciclista português repetiu a classificação do Rio 2016 e teve direito a novo diploma olímpico, obtido em condições bastante adversas devido à chuva que caiu durante a prova. «Era impossível fazer melhor em termos de desempenho. Fui acelerando e terminei no meu limite», disse o especialista em contrarrelógio. Rui Costa terminou a prova no 25.º lugar, mas o seu principal objetivo é a prova de fundo que se realiza amanhã.
Maria Inês Barros terminou em 8.º lugar a competição de tiros com arma de caça e recebeu o diploma olímpico.
Filipa Martins disputou a final all-around e defrontou Simone Biles e Rebeca Andrade. A ginasta portuguesa ficou entre as 24 melhores do mundo e superou o resultado do Rio 2016 (37.ª). Na eliminatória fez um salto de elevado risco denominado Yurchenko com dupla pirueta e entrou na história de ginástica portuguesa. «Foi um exercício que impõe muito respeito», disse.
Portugal no tapete
Com exceção de Patrícia Sampaio, o judo foi um fracasso total. Jorge Fonseca (- 100 kg) disse que ia a Paris «dar pancada neles» e afinal foi ele que levou um ipponno único combate que fez. Bárbara Timo (- 63 kg), Taís Pina (- 70 kg) e João Fernando (-81 kg) tiveram uma presença demasiado curta para tantas ambições e foram eliminados na primeira vez que pisaram o tatami. Catarina Costa, vice-campeã europeia e 7.ª classificada no ranking mundial da categoria – 48 kg, foi eliminada no segundo combate por ippon pela judoca do Paraguai, 60.ª do ranking.
Portugal também já fechou a sua participação no ténis. Depois de terem sido eliminados em singulares, Nuno Borges e Francisco Cabral disseram adeus aos jogos ao perderem com a dupla alemã em dois sets (6-2 e 6-2) numa partida desequilibrada que durou apenas uma hora.
A presença portuguesa no ténis de mesa terminou com a eliminação de Marcos Freitas, Jieni Shao e Fu Yu na segunda ronda.
O sonho de uma medalha de Gustavo Ribeiro não passou disso mesmo. O skater caiu diversas vezes e acabou eliminado, foi 17.º na prova de stree.
Aos atletas nacionais aconteceu de tudo. Depois de ter concluído o dressage no 59.º lugar, Manuel Grave foi eliminado da prova de cross country devido a uma queda quando tentava ultrapassar um dos obstáculos e fraturou a clavícula. Rita Duarte foi a melhor portuguesa na dressage, mas falhou a final.