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Assinatura do acordo comercial UE-Mercosul adiada para janeiro

Ontem 10:28
Assinatura do acordo comercial UE-Mercosul adiada para janeiro

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou os líderes da UE, numa cimeira em Bruxelas, que a assinatura do polémico acordo de comércio livre com o bloco sul-americano Mercosul seria adiada para janeiro, segundo relatos desta quinta-feira.

A Comissão Europeia queria selar o pacto para criar a maior área de comércio livre do mundo esta semana, mas o plano foi prejudicado depois de a Itália se ter juntado à França, outra potência, na exigência de um adiamento, procurando uma maior protecção para o sector agrícola.

O acordo entre a UE e o Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, que está a ser negociado há mais de 25 anos e foi concluído há um ano, estava previsto ser assinado numa cimeira no Brasil este sábado.

O polémico acordo visa impulsionar o comércio entre os blocos económicos, mas tem sido visto com críticas por alguns dos principais países da UE, incluindo a França, a Polónia e a Itália.

Na quinta-feira, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, pediu ao Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mais tempo para aprovar o acordo.

O apoio da Itália é necessário para alcançar a maioria necessária de pelo menos 15 dos 27 Estados-membros da UE, representando 65% da população do bloco, que apoiem o acordo e abram caminho para a sua assinatura.

Lula afirmou em conferência de imprensa que telefonou a Meloni para discutir o acordo mais cedo nesse dia e que esta não se opunha ao acordo, mas precisava de até um mês para convencer os agricultores.

Lula, que avisou na quarta-feira que não assinaria o acordo se este não fosse concluído este mês, disse que iria consultar os parceiros do Mercosul na cimeira de sábado sobre os próximos passos.

Meloni afirmou em comunicado que a Itália estava pronta para apoiar o acordo assim que as preocupações agrícolas fossem resolvidas, o que, segundo ela, poderia acontecer rapidamente.

O pacto comercial seria o maior da UE em termos de cortes tarifários. A Alemanha, a Espanha e os países nórdicos afirmam que irá impulsionar as exportações afetadas pelas tarifas dos EUA e reduzir a dependência da China, garantindo o acesso aos minerais.

Mas os críticos temem uma entrada maciça de produtos baratos que possa prejudicar os agricultores europeus.

O ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Friedrich Merz, e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, instaram os líderes da UE, na quinta-feira, a apoiar o pacto.

"Este acordo comercial é o primeiro de muitos que devem vir para que a Europa ganhe peso geoeconómico e geopolítico numa altura em que está a ser questionada por adversários declarados, como (o presidente russo Vladimir) Putin, ou mesmo por aliados tradicionais", disse Sánchez aos jornalistas antes da cimeira.

A cimeira provocou um protesto contra o acordo, com a participação de cerca de 7.000 pessoas, na sua maioria agricultores, que se tornou violento. A polícia belga usou gás lacrimogéneo e canhões de água depois de os manifestantes terem atirado batatas e pedras e partido janelas.

A Polónia e a Hungria opõem-se ao pacto, enquanto a França e a Itália continuam apreensivas com o aumento das importações de carne de bovino, açúcar, aves e outros produtos.

O presidente francês, Emmanuel Macron, cujo país é o maior produtor agrícola da UE, afirmou que o acordo ainda não está pronto.

"Neste momento, não estamos prontos; os números não batem certo para assinarmos este acordo", disse, acrescentando que a França tem trabalhado com a Polónia, a Bélgica, a Áustria e a Irlanda para pressionar por um adiamento.

Em França, a indignação pela forma como o governo lidou com a dermatite nodular contagiosa, um vírus que afecta o gado, aprofundou o descontentamento dos agricultores em relação a questões como o pacto Mercosul. Agricultores do sudoeste bloquearam autoestradas durante dias.

Temendo protestos em todo o país como os de há dois anos, Paris está a apressar-se a vacinar o gado, mantendo a sua oposição ao acordo.

Os parlamentares e os governos da UE chegaram a um acordo provisório na quarta-feira sobre salvaguardas para limitar as importações de produtos agrícolas sensíveis, como a carne de bovino e o açúcar, e atenuar a resistência.

A Comissão Europeia está também a preparar uma declaração comprometendo-se com padrões de produção alinhados. Macron disse que a reciprocidade é essencial para que a UE não abra os seus mercados às importações baratas produzidas ao abrigo de regras mais frouxas, como o uso de pesticidas.

Alguns tractores que congestionavam as ruas de Bruxelas exibiam faixas que ecoavam o cepticismo de Macron: "Porquê importar açúcar do outro lado do mundo quando produzimos o melhor aqui mesmo? Parem o Mercosul", lia-se numa das faixas.



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