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A corda bamba diplomática de Marrocos: navegando pelos laços económicos com a Rússia em pleno conflito na Ucrânia

A corda bamba diplomática de Marrocos: navegando pelos laços económicos com a Rússia em pleno conflito na Ucrânia
Sábado 05 - 13:00
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Num cenário geopolítico complexo, Marrocos encontra-se a equilibrar delicadamente as suas significativas relações económicas com a Rússia contra a pressão crescente dos aliados ocidentais sobre o conflito em curso na Ucrânia. Esta intrincada manobra diplomática foi destacada num relatório recente do Carnegie Endowment for International Peace, lançando luz sobre o posicionamento estratégico da nação do Norte de África.

O relatório, intitulado "Um Balanço Misto: A Influência Desigual da Rússia no Magrebe", revela que embora Marrocos possa não ser o foco principal da estratégia regional da Rússia, as duas nações estabeleceram laços comerciais e económicos substanciais. Só em 2021, o comércio entre Marrocos e a Rússia aumentou uns impressionantes 42%, sublinhando a profundidade dos seus laços económicos.

O sector agrícola de Marrocos, uma pedra basilar da sua economia, que emprega 45% da força de trabalho e contribui com 15% para o PIB, depende fortemente das importações russas de produtos cruciais, como o amoníaco e os fertilizantes. A parceria vai além da agricultura, abrangendo o carvão, o petróleo, a pesca e a cooperação em energia nuclear.

Esta interdependência económica colocou Marrocos numa posição desafiadora, à medida que as nações ocidentais intensificam a pressão sobre a Rússia após a invasão da Ucrânia. Rabat optou por uma abordagem ponderada, exemplificada pela sua abstenção na votação contra a agressão russa durante uma reunião da Assembleia Geral das Nações Unidas no início de 2023.

Contudo, a posição de Marrocos não é de apoio inequívoco à Rússia. Num movimento surpreendente, tornou-se o primeiro país do Magrebe a prestar ajuda militar à Ucrânia, fornecendo vinte carros de combate T-72B remodelados. Esta acção está alinhada com o estatuto de Marrocos como um importante aliado dos Estados Unidos não pertencente à NATO e com a sua participação regular em exercícios militares patrocinados pelos EUA na região.

O relatório aborda também a complexa dinâmica que rodeia a disputa do Sahara. Marrocos procura alegadamente manter a posição de neutralidade qualificada da Rússia nesta matéria, apesar do apoio declarado de Moscovo à "autodeterminação" saharaui e do seu apoio à Frente Polisário. Alguns analistas sugerem que Marrocos vê as autoridades russas como potenciais influências moderadoras na posição da Argélia em relação ao Saara.

À medida que as rivalidades regionais se desenrolam, a Argélia tem assistido a um estreitamento dos laços com a Rússia, especialmente no domínio militar. No entanto, o relatório conclui que Marrocos, tal como outros Estados do Magrebe, provavelmente continuará a seguir um caminho autónomo nas suas relações externas.

O autor, Frederic Wehrey, membro sénior do Carnegie Endowment for International Peace, observa que os governos da região preferem manter as suas opções em aberto. Continuam a diversificar as suas relações com várias potências globais, incluindo os Estados Unidos, os países europeus, a China, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos, apesar das ocasionais frustrações.

Este relatório faz parte de uma série mais vasta que analisa o ressurgimento da Rússia no Médio Oriente e no Norte de África, oferecendo informações valiosas sobre a dinâmica mutável das relações internacionais nesta região estrategicamente importante. À medida que Marrocos navega nestas águas diplomáticas turbulentas, a sua capacidade de manter um equilíbrio delicado entre interesses concorrentes será crucial para moldar o seu futuro na cena global.


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