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Águas Transfronteiriças: Inundações Estreitam as Relações Bangladesh-Índia em Meio aos Desafios Climáticos

Águas Transfronteiriças: Inundações Estreitam as Relações Bangladesh-Índia em Meio aos Desafios Climáticos
Segunda-feira 26 Agosto 2024 - 08:15
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Nas últimas semanas, Bangladesh testemunhou uma onda de sentimento anti-Índia após graves inundações em suas regiões do nordeste. O dilúvio, que começou em 21 de agosto, desencadeou um debate acalorado sobre a gestão transfronteiriça de águas entre as duas nações, trazendo tensões de longa data à tona.

O governo interino de Bangladesh, liderado pelo ganhador do prêmio Nobel da Paz e economista Muhammad Yunus, acusou a Índia de liberar água de uma represa no estado de Tripura sem notificação adequada. Essa alegação alimentou protestos em campi universitários, com estudantes entoando slogans anti-Índia e representantes do governo fazendo declarações fortes contra seu vizinho.

Nahid Islam, um representante estudantil no governo interino de Bangladesh e chefe do Ministério de Tecnologia da Informação, chegou a acusar a Índia de "terrorismo da água" em postagens de mídia social. Ele sugeriu que envolver a China no projeto de água Teesta poderia abordar a intransigência percebida da Índia.

A controvérsia toca em uma história complexa de disputas de compartilhamento de água entre a Índia e Bangladesh, que compartilham 54 rios transfronteiriços, incluindo o Ganga (Padma), Teesta e Brahmaputra (Jamuna). A questão do compartilhamento de água do Teesta, em particular, tem sido um ponto de discórdia de longa data entre os dois países.

Em resposta à situação crescente, o Ministério das Relações Exteriores da Índia (MEA) emitiu uma declaração na quinta-feira, refutando as alegações de que a abertura da barragem de Dumbur em Tripura causou as enchentes. O MEA explicou que chuvas sem precedentes nas áreas de captação do rio Gumti foram a causa primária das enchentes, enfatizando que a localização e o projeto da barragem tornam improvável que ela seja a única culpada.

O Alto Comissário Indiano para Bangladesh, Pranay Verma, se encontrou com Muhammad Yunus para abordar a situação e discutir possíveis soluções. Durante esta reunião, Yunus propôs formar um comitê de alto nível entre Bangladesh e Índia para gerenciar inundações em conjunto, destacando a necessidade de uma cooperação bilateral melhorada em questões de gerenciamento de água.

No entanto, resolver essas disputas está longe de ser simples. O legado de queixas históricas, exemplificado pela Farakka Long March do falecido Maulana Abdul Hamid Khan Bhashani em 1976, continua a influenciar a opinião pública em Bangladesh. Muitos bengaleses ainda exigem o descomissionamento da Farakka Barrage da Índia, que eles acreditam que priva seu país de sua justa parcela das águas do Ganges.

A situação é ainda mais complicada pela política interna indiana. A ministra-chefe de Bengala Ocidental, Mamata Banerjee, se opõe ao acordo de compartilhamento de água de Teesta, citando preocupações sobre a escassez de água em seu estado. Além disso, a dependência do estado de Sikkim em represas hidrelétricas adiciona outra camada de complexidade à questão.

As mudanças climáticas estão exacerbando esses desafios. A região nordeste da Índia, que inclui estados que compartilham rios com Bangladesh, está vivenciando padrões de chuva cada vez mais imprevisíveis. O meteorologista Mostafa Kamal observou que as recentes enchentes resultaram de chuvas recordes equivalentes à precipitação média de um mês inteiro caindo em apenas três dias.

Olhando para o futuro, as projeções climáticas sugerem uma tendência para períodos de seca mais longos interrompidos por eventos de chuvas intensas no nordeste da Índia. Esse padrão climático mutável pode levar a inundações e secas mais frequentes, potencialmente impactando a disponibilidade de água em Bangladesh a jusante.

À medida que o prazo de 30 anos do Tratado de Compartilhamento de Água Indo-Bangladesh se aproxima do fim em 2026, ambos os países enfrentam uma pressão crescente para abordar essas questões. Alguns especialistas de Bangladesh, como o economista Anu Muhammad, defendem o envolvimento de órgãos internacionais como a Convenção das Nações Unidas sobre Água para mediar as disputas.

As recentes inundações ressaltaram a necessidade urgente de melhor gestão transfronteiriça de água e cooperação entre a Índia e Bangladesh. À medida que as mudanças climáticas continuam a alterar os padrões climáticos e a disponibilidade de água, encontrar soluções sustentáveis ​​para essas questões de longa data será crucial para manter a estabilidade regional e garantir acesso equitativo aos recursos hídricos para ambas as nações.


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